A narração era uma espécie de "desejo oculto", que começou a tomar forma após uma tentativa de participar do reality "O Narrador". O Esporte Interativo, porém, achou o rapaz muito jovem e o ofereceu um estágio. Desde então, passados 15 anos, Luisinho ganhou 'cancha', narrando jogos de NBA, NFL, Liga dos Campeões, entre outros.

Mas o narrador queria mais, e trocou a emissora pelo canal de streaming CazéTV. O motivo? A chance de narrar a Copa do Mundo 2022. Dez meses depois, ele já está em seu terceiro Mundial e não quer parar por aí. Afinal, evento grande é com ele mesmo.

Voz dos principais jogos da Copa feminina 2023 na CazéTV - que comprou direitos de transmissão para os 64 jogos - Luisinho quer ser referência, não só no futebol, mas no esporte como um todo. E o próximo compromisso já é certo: os Jogos Pan-Americanos de Santiago.

Com 35 anos, e um currículo bem mais longo, Luisinho faz parte de uma geração de narradores, como Everaldo Marques e Sergio Arenillas, que gostam de "estar preparados para tudo que acontecer numa transmissão". São horas gastas com anotações coloridas e leituras além do campo e bola antes de soltar a voz no microfone.

"A parte mais fácil é narrar. Eu fico mais tempo me preparando para o jogo do que no ar. Eu realmente me preparo muito, e é algo que eu não abro mão. 80% do que estudo eu nem coloco na transmissão", revela.

O tempo debruçado sobre notícias da imprensa local ajuda o narrador a ter "um termômetro" do evento, e também descobrir curiosidades para surpreender comentaristas e espectadores.

Ele, porém, não quer ser o "professor" do grupo: "não é o meu objetivo, mas a gente pode agregar com uma informação histórica, com um componente que promova um interesse em quem está assistindo".

Além disso, Luis fala cinco idiomas (português, alemão, francês, inglês e espanhol), o que ajuda na hora de fazer traduções ao vivo de entrevistas: "Eu fiz uma base de todas, e tenho o ouvido bom. Eu viajo muito e vejo muitas séries que são de línguas estrangeiras para tentar educar o meu ouvido a se adaptar para essas línguas".

A Copa feminina contou com um componente especial, o fuso horário. A estratégia foi "organizar o dia anterior à partida para estar o mais descansado possível para o dia do jogo", mas as partidas às 4h (de Brasília) foram um problema: "Este é o pior horário. Você fica no mato sem cachorro. É muito difícil. O jogo que eu narrei às 4 da manhã, eu narrei virado, ou dormi 40 minutos".

As transmissões da CazéTV não costumam esconder os bastidores de uma partida, pelo contrário. Sempre que alguma jogada mais emblemática ocorre, é comum ver as reações de comentaristas e narradores ao vivo, os famosos "reacts" que tanto encantam os fãs jovens.

Luisinho conta que nada disso é ensaiado, pois é impossível viver um personagem durante tanto tempo e que, mesmo mostrando algumas facetas de sua personalidade, ele sempre é aquilo que aparece na tela. "São reações totalmente naturais. Acho que evoluí enquanto comunicador, ficando cada vez mais confortável com isso, mas sempre sendo eu", diz.

Ele destaca que as pessoas têm acesso a um bastidor que antes não tinham e que durante as transmissões fica focada na narração e não em como está sua aparência ou como estão os seus gestos.

"Eu quase nem olho para aquela câmera, eu estou narrando e olhando para a televisão, eu não quero perder nenhum detalhe do que aconteceu. Então estou sempre tentando capturar o que está sendo transmitido e envelopar de uma maneira pessoal, individual. Por isso que é tudo genuíno", afirma.

A relação de Luisinho com Casimiro, com quem trabalha na CazéTV, é muito boa. Eles dividem algumas transmissões, um como narrador e o outro como comentarista, e essa amizade acaba invadindo as transmissões, pois eles conseguem se entender e brincar um com o outro naturalmente.

Luisinho destacou que não sente pressão por trabalhar ao lado do chefe e que na hora do jogo os papéis acabam se invertendo, pois é o narrador quem comanda a transmissão. "Eu não tenho essa pressão de estar trabalhando ao lado do chefe. Ele confia no meu trabalho como eu confio no dele", explica.

Ele ainda comparou a relação com Cazé como se estivesse jogando videogame em casa com os amigos, narrando o jogo e brincando. Ele ressaltou que eles se respeitam muito enquanto profissionais e têm uma amizade grande, o que torna tudo mais fácil na transmissão.

O futebol feminino tem evoluído muito e a Copa do Mundo está mostrando isso de forma clara, segundo Luisinho. Ele lembra que as goleiras têm se destacado, diminuindo a diferença em relação às jogadoras de linha. Além disso, há muitas jogadoras habilidosas em campo, que podem se tornar novas Martas.

"A Linda Caicedo e a Lauren James são craques. E tem várias outras. Acho que a Copa está vindo para fazer as pessoas se apaixonarem pelo futebol feminino. As pessoas estão vendo grandes jogos e vão gostar, se estiverem dispostas a curtir um grande evento", avisa.

O narrador ressalta a importância de destacar o que está sendo feito de bom e criticar o que está sendo feito de ruim, sem diferenciação entre o futebol masculino e feminino. "Eu acho que a gente sai e vai sair muito melhor dessa Copa do que a gente entrou", comenta.

A Copa feminina é o terceiro grande evento de Luisinho em menos de um ano. Ele narrou a Copa do Qatar, o Mundial Sub-20 e agora o evento na Austrália e Nova Zelândia. Domingo, ele estará à frente de Espanha x Inglaterra pela CazéTV, quando sairá um campeão inédito. A intenção será, mais uma vez, emocionar os espectadores.

"Eu sei que eu não posso narrar tudo a todo momento, a todo instante, mas quero estar sempre envolvido nos melhores eventos. Esse é o desejo de todos os narradores e narradoras ou de todos os comunicadores esportivos: estar envolvido nos grandes eventos", conclui.